domingo, 23 de dezembro de 2012

Crianças adotadas por famílias de SP de forma irregular voltam para BA

Silvânia e Gerôncio vão passar o Natal com os cinco filhos adotados irregularmente por famílias de São Paulo.
O Fantástico especial de Natal mostra o desfecho de uma história que você acompanhou no programa desde o início: a luta de uma mãe para levar cinco filhos de volta para casa. Aeroporto de Guarulhos, São Paulo, começo do caminho de volta. Silvânia sonhava com isso há um ano e oito meses. Mas a certeza de que o drama estava terminando só veio quando ela se viu dentro do avião. Depois do desembarque em Salvador ainda faltavam 400 quilômetros de estrada até chegarem a Monte Santo, no sertão da Bahia. Essa história, revelada pelo Fantástico, começou em maio de 2011, quando os filhos de Silvânia foram retirados à força de dentro de casa. A caçula de dois meses de idade, única menina entre os cinco filhos, foi a primeira a ser levada por ordem da Justiça de Monte Santo. Duas semanas depois, o sofrimento aumentou. “Duas semanas depois, estava em casa lavando as roupinhas deles, quando de repente chegou um carro. Eu pensei que era para trazer minha menina de volta”, lembrou Silvânia.
Eram dois policiais e uma escrivã para cumprir nova ordem do juiz: levar os outros quatro meninos. De um dia para o outro, sem que as etapas previstas na lei fossem cumpridas e sem que se respeitassem as condições legais para adoção, a guarda provisória das crianças foi entregue a casais de Campinas e Indaiatuba, interior de São Paulo. Depois, o juiz responsável, Vitor Bizerra, mudou de comarca. Foi substituído pelo juiz Luiz Roberto Cappio, que determinou a volta dos filhos de Silvânia à Bahia. O caso atraiu a atenção do Governo Federal. “A Secretaria de Direitos Humanos acompanhou todo o processo, desde o momento em que identificamos irregularidades absurdas no processo que retirou as crianças de sua casa”, diz Maria do Rosário, ministra da Secretaria de Direitos Humanos. A nova decisão da justiça baiana incluiu um período de readaptação. Em uma casa na cidade de São Paulo, psicólogos e pedagogos ajudaram a família biológica a reencontrar os laços afetivos. “As crianças tiveram uma ruptura em Monte Santo há um ano e oito meses e agora novamente outra ruptura. Os adultos que adotaram essas crianças se tornaram também referências para elas. Então, nós tivemos que trabalhar esse lado emocional de perdas das crianças”, explica a pedagoga Sandra Greco.
O Fantástico tentou ouvir mais uma vez as famílias de São Paulo e a advogada delas, que não quiseram falar. “Eles buscaram alguma vezes informações através da advogada. Queriam saber se as crianças estavam bem e receberam as informações que nós poderíamos dar”, conta Sandra Greco. “Principalmente a Stephanie, a pequeninha, não desgrudou, ficou o tempo todo com a mãe. Isso chamou nossa atenção”, diz o juiz da infância e da juventude Iasin Ahmed. O trabalho de reaproximação das cinco crianças com a mãe durou duas semanas e foi acompanhado pelo juiz da Infância e Juventude do Fórum de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. “Os outros irmãos ficam brincando, fazendo muita bagunça, correndo de um lado para o outro. Isso nos tranquilizou”, diz Iasin Ahmed.
Só depois dessas duas semanas em São Paulo, Silvânia e os cinco filhos embarcaram para a Bahia. “Agora é assegurar a paz dessa família, assegurar a tranquilidade”, afirma Luís Roberto Cappio, juiz de Monte Santo (BA).
Desde a primeira reportagem, que foi ao ar no dia 14 de outubro, o juiz que mandou retirar as crianças, Vitor Bizerra, se recusa a falar com o Fantástico. A equipe de reportagem tentou mais uma vez. “Não havia como esse juiz não conhecer a lei. É um sofrimento incalculável para as crianças, para a mãe, para a família em Monte Santo e para essas famílias que estão em outro estado da federação e que também sofrem com tudo isso”, diz a ministra Maria do Rosário.
A comerciante Carmen Topschall, intermediária das famílias paulistas na busca por crianças para adoção, é agora investigada pelo Ministério Público e pela CPI do tráfico de pessoas. O novo endereço das crianças é uma casa simples, do tamanho do alcance financeiro da família. Mas é lá que Silvânia pretende recomeçar a vida. É lá que ela espera encontrar sossego para criar os filhos. Os dois meninos maiores, de 8 e 6 anos, são os que mais sentiram tanta mudança em tão pouco tempo de vida. Silvânia conta que já esperava a resistência deles. “Vou levando com jeitinho, conversando com eles em cada momento. É difícil para eles também como foi para mim”, diz ela.
“Estamos cuidando para que na cidade a escola, a saúde, e os programas de assistência social sejam assegurados a essa família, assim como às demais, porque existem outras famílias também que tiveram seus filhos retirados ou que têm medo de perderem seus filhos”, diz a ministra Maria do Rosário.
No dia seguinte à chegada dos meninos, Gerôncio, o pai de quatro deles, separado de Silvânia, estava desde cedo na porta da casa. O primeiro a sair para brincar com o pai foi Daniel.
Gerôncio agora planeja uma nova vida ao lado dos filhos. “Cuidar, levar na escola, final de semana ir para a casa da minha mãe, porque é avó gosta muito deles todos. Viver e crescer”, deseja ele.
“O meu coração só faltou explodir”, contou Josias de Souza, o avô paterno, quando viu os netos de volta.
Silvânia descreve a sensação de se ver dentro de casa em Monte Santo com toda a família reunida. “Me emocionei muito, fiquei muito feliz. O vazio que estava era os meus filhos fora de mim”, lembra.
Fonte: G1 BA

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