Imagem retirada do site G1 da novela Guerra dos Sexos |
Agressões físicas ou verbais entre os pais impactam mais no equilíbrio psíquico da criança – empurrando-a para o mundo da violência – do que sua submissão a maus tratos. Essa constatação foi apresentada pelo psiquiatra francês Maurice Berger em audiência pública da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), nesta quinta-feira (8), evento que integra a 5ª Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz do Senado.
- A primeira causa de violência é o distúrbio da parentalidade: pais que não conseguem entender as necessidades de suas crianças pequenas. Não entendem o que a criança precisa quando grita, chora ou estende os braços, porque também tiveram uma infância desastrosa – afirmou Berger, que dirige o serviço de psiquiatria infantil e do adolescente do Centro Hospitalar Universitário Saint Etienne, em Paris.
Pais imprevisíveis, centrados em si próprios, usuários de drogas e que manifestam distúrbios psiquiátricos ou produzem violência verbal desestabilizariam o emocional da criança e insuflariam nela um comportamento violento no futuro. De acordo com Berger, bebês submetidos a uma rotina de negligência e estresse já podem demonstrar impulsos violentos com apenas 16 meses.
Fracasso escolar
O psiquiatra francês também chamou atenção para a situação de fracasso escolar que acompanha essas crianças.
- Uma criança pequena angustiada coloca toda sua energia em não pensar, daí a deficiência intelectual. Ela também pode ter atraso no desenvolvimento da linguagem se não houver estímulo à fala, que começa a se manifestar entre dez meses e dois anos e meio – comentou Berger.
Acompanhamento domiciliar
Ações assistenciais para famílias em vulnerabilidade sócioeconômica foram a saída encontrada pela França para tentar minar comportamentos violentos futuros. De acordo com a psicóloga portuguesa Susana Tereno, professora da Universidade Paris Descartes, essa intervenção se baseia em visitas domiciliares semanais, quinzenais ou mensais, que se iniciam aos sete meses de gravidez e se estendem até os dois anos da criança.
A construção de uma relação de apego entre mãe e filho foi apontada como fundamental para a estruturação da saúde mental da criança nos primeiros cinco anos de vida.
- É a relação de apego que permite que a criança tenha estabilidade psíquica e emocional e consiga resistir às situações de estresse da vida – comentou Tereno.
Algumas mães submetidas a essa intervenção não conseguiram superar seus traumas, mas obtiveram uma melhora na relação com o filho. Isso fez com que o nível de organização emocional e psíquica da criança pudesse se equiparar ao de grupos que mantém uma relação de apego equilibrada.
- As mães continuaram a ter comportamento desorganizante, mas aprenderam a lidar com isso e a não repassar para a criança, desorganizado-a também – comentou a psicóloga.
Fonte: Agência Senado
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