Por Yano Sérgio
Estudantes cristãos de uma escola estadual de Manaus, que se recusaram a fazer um trabalho sobre a cultura afro-brasileira dizem que estão sendo vítimas de bullying na instituição de ensino. O motivo seria a recusa do grupo em participar de feira cultural da escola, que segundo os alunos, teriam de representar e defender o conteúdo de obras literárias que fazem referência à homossexualidade e ao candomblé. A professora da escola, na zona norte, coordena o projeto para preservar a identidade etno-cultural brasileira, proposto aos alunos do ensino médio há sete anos. Obras literárias como Tenda dos Milagres e Jubiabá, de Jorge Amado, que retratam a cultura afro são lidas durante a feira, e os alunos devem mostrar o que assimilaram.
“O objetivo do nosso trabalho não é trabalhar a questão religiosa, mas sim levar o conhecimento dos nossos alunos, a formação, a contribuição dos valores culturais, que foi deixada pelos nossos antepassados. Negros, índios, a formação cultural”, disse a professora Nonata Neves.
Mas o grupo de 14 estudantes cristãos se recusou a participar da feira, pois, segundo Kimberly Alves, os livros fazem referência a rituais e condutas sexuais que afrontam os valores dela. “Os livros que estavam propostos para nós lermos e defendermos, falava mais a respeito de candomblé e homossexualismo, muito mais do que a cultura. Aí já está errado, e na feira cultural é defender o homossexualismo, é defender o candomblé, aí já é demais, a opinião do grupo é não concordar com isso.”
Sem nota na avaliação, os alunos querem fazer um trabalho alternativo com o conteúdo sugerido por eles, para não ficarem prejudicados, mas a ideia foi negada pela escola. “Se continuar do jeito que está, a questão até poderemos ficar sem nota, ou então sermos prejudicados por nota baixa, e isso prejudicaria nossa entrada nos vestibulares como o processo seletivo da UFAM, ou até mesmo da UEA”, conta a estudante.
“A nossa postura é que eles terão que fazer uma prova, pelo menos uma prova em cima dos livros que eles lerão”, afirmou a diretora da escola, Isabel Carvalho.
A Coordenação Amazônica da Religião de Matriz Africana e Ameríndia, por meio do presidente Alberto Jorge, diz que o grupo de jovens é influenciado por alguns pais e pastores, e vai denunciar o caso ao Ministério Público Federal por intolerância religiosa e racial.
“Preferiram montar uma tenda evangélica na frente da escola juntamente com os pastores e fizeram uma incitação ao ódio cometeram crime de injúria, cometeram crime de racismo que vai de encontro ao próprio estatuto da igualdade racial.”
O pastor Vitor Luiz diz que a igreja não prega o preconceito, mas defende a posição dos estudantes. “Não é da cultura afro-brasileira, não é questão disso. É as práticas erradas que eles cometem, e nós é que somos errado.”
Diante da polêmica, os alunos contam que estão sofrendo discriminação na escola por parte de professores e colegas. “Porque uma coisa é discordar, opinião, agora não podemos mais ter opinião no Brasil, o que é isso? Só porque nossa opinião é diferente tem que ser tachada como intolerante.”
“Em nenhum momento eu pensava que um trabalho voltado para literatura brasileira, obras clássicas, fosse causar tanta polêmica como está acontecendo”, disse a professora.
Fonte: Cenário MT
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