sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Crianças brincam mais nos quartos e socializam menos


“Há uma espécie de regresso às cavernas, as crianças fecham-se num refúgio de luxo conectado com o mundo - o virtual em vez do real, o site em vez do sítio. É certo que elas continuam num mundo lúdico de encanto, mas fazem-no sem irmãos, nem vizinhos, nem amigos informais”, explica o investigador doutorado em sociologia infantil, Alberto Nídio Silva.
O investigador diz que as brincadeiras individualizaram, devido às mudanças que a sociedade tem vindo a sofrer ao longo dos tempos. Na tese “Jogos, Brinquedos e Brincadeiras - Trajetos Inter-geracionais”, desenvolvida por Alberto Nídio para a conclusão do doutoramento, explica que as crianças passaram a brincar com as tecnologias, com os brinquedos industriais e a estar na escola a tempo inteiro, deixando para trás as tradicionais correrias nos montes, as brincadeiras na rua com os vizinhos e as suas aventuras. As atividades curriculares, o “engavetar” das crianças nas mais diversas instituições para coincidir com o trabalho dos pais, são algumas das atividades que o investigador reprova, justificando que a “vida das crianças infernizou-se e que está seriamente amputada do quotidiano com a dimensão plena da brincadeira".Alberto Nídio Silva acredita que “a sociedade deve rapidamente reconquistar o espaço público perdido”, mas também que as escolas devem “criar espaço-tempo” com atividades “exclusivamente lúdicas”. De modo a “trazer ao interior da família a obrigação de abrir as portas para que, lá fora, as crianças se possam encontrar e brincar, tal como antes se reuniam no largo, adro ou campo com os vizinhos e colegas da escola, catequese ou escutismo”.“Para equilibrar uma balança que parece pender para a perda do sentido de autonomia do movimento, da criatividade e do próprio corpo da criança e para a subordinação a formas estandardizadas e mercantis do brincar”, o investigador acredita ser necessária uma conjugação entre as velhas tendências e os novos padrões. Alberto Nídio Silva fez mestrado e doutoramento em sociologia infantil na Universidade do Minho, mas também é já autor da obra “Estudo de caracterização dos recreios escolares com vista à sua requalificação”.

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