terça-feira, 15 de novembro de 2011

Toque de Estudo, conhecido em SP, como toque escolar ajuda a conter evasão escolar

Michelle Pereira Godoy, 18 anos, abandonou o 3º ano do ensino médio após uma professora anunciar, na frente dos colegas, que a estudante tinha notas ruins e seria reprovada em química. “Gosto da escola, mas não sou fã. Fiquei triste com essa humilhação.” O casamento realizado em junho foi outro motivo que contribuiu, segundo a jovem, para o afastamento das atividades escolares.  O caso de Michelle, de Estrela d’Oeste, espelha o que ocorre em um terço dos municípios da região. No total, 32 dos 95 municípios do Noroeste paulista, pouco acima de um terço, apresentam índices de abandono escolar nos ensinos fundamental e médio da rede pública acima da média do Estado, segundo o Censo Escolar 2010 do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep). 
Em Estrela d’Oeste, 7,1% dos alunos abandonaram os estudos. Em alguns casos, como em Palestina, o percentual chega a 16,3%, mais do que o triplo da média paulista, que foi de 5,1%. O problema se repete neste ano, segundo o Conselho Tutelar, que registrou o abandono de 50 adolescentes no ensino médio. Em Bady Bassitt, o índice chega a 12,2%. 
“A maioria começa a trabalhar nessa faixa etária, por volta dos 15 anos, e perde o interesse nos estudos. E os pais não conseguem segurá-los na escola”, diz a presidente do conselho, Sirlene Beraldo Manheze. Para a pedagoga Duda Laguna, ex-secretária de Educação de Rio Preto, o dado é preocupante. “Considerando a riqueza econômica e social da região, estamos muito atrasados nesse quesito. São municípios pequenos, onde a evasão é mais fácil de ser controlada.” 
As consequências do abandono escolar são danosas e, muitas vezes, permanente. Leiziane Pavão Sonsini, 22 anos, por exemplo, de Estrela d’Oeste, abandonou, em 2003, o oitavo ano do fundamental. Primeiro, para cuidar dos dois irmãos. Depois, foi trabalhar. Hoje, só consegue subempregos. A falta de estudos impediu uma promoção no antigo trabalho. “Eu me arrependo de ter parado. Não tinha outra opção, precisava trabalhar. Quero retomar os estudos em 2012.” 
Dois outros quesitos do Censo ajudam a entender os motivos do abandono da escola. Dos 95 municípios, 34 apresentam distorções entre a idade e a série em que estudam maior do que a média paulista. Em Guapiaçu, por exemplo, 25% dos alunos do fundamental têm faixa etária elevada para a série onde estão - no médio chega a 30%. Bady e Estrela d’Oeste também têm percentuais acima da média do Estado. 
No item reprovação, 16 apresentam percentuais acima da média - Bady Bassitt e Estrela d’Oeste entre eles. “A distorção idade-série e a reprovação desaguam no abandono. O aluno repete muito, passa a conviver com alunos mais jovens e não vê mais sentido em continuar na sala de aula”, diz Maria Izabel Azevedo Noronha, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE). 
Para a especialista, a situação regional quanto à evasão escolar espelha a realidade nacional. “O que existe hoje é a ausência de identidade do ensino médio, o que faz o jovem pensar o que está fazendo na escola, já que, em boa parte dos casos, precisa trabalhar. A questão é: o conteúdo curricular atende aos anseios desse aluno trabalhador? Ou é um faz-de-conta?”, questiona. “O aluno acaba percebendo que aquilo que ele aprende na escola não é útil para a sua vida”, completa Duda Laguna. 

Justiça cria ‘Toque Escolar’ 

Para combater a evasão escolar, a Justiça de Fernandópolis criou em agosto de 2010 o Toque Escolar. A medida autoriza a Polícia Militar e o Conselho Tutelar a recolher e levar para a escola crianças e adolescentes que estão nas ruas nos horários que deveriam frequentar as aulas. Oito estudantes foram flagrados. “Notamos que o problema (evasão) existia. A situação melhorou”, afirma o juiz Evandro Pelarin. 
Na primeira vez, o pai é comunicado sobre o fato. Se a falha persistir, segundo Pelarin, pode ser responsabilizado e responder judicialmente. O Toque Escolar não é a única medida polêmica adotada na cidade. Desde 2010, quatro responsáveis foram obrigados pela Justiça a assistir as aulas com os filhos que faltavam na escola sem motivo. “Só foram liberados da obrigação após a situação se normalizar. O pai tem responsabilidade pela educação dos filhos.” 
Thomaz Vita Neto
Joice da Silva, 17 anos, deixou a escola quando engravidou, em 2010, e guardou o último caderno como recordação do ensino médio

Estado diz que auxilia aluno problemático 


A Secretaria de Estado da Educação informou em nota que a Diretoria de Ensino de Rio Preto busca conter a evasão escolar nas escolas da região por meio do contato permanente com os familiares do aluno para saber os motivos da falta, além da comunicação de todos os casos ao Conselho Tutelar dos municípios. Com relação à distorção idade/série, a pasta assegura haver acompanhamento intensivo desses alunos e na comunicação aos pais ou responsáveis dos resultados de aprendizagem obtidos bimestralmente. 
A assessoria afirma que as taxas de abandono escolar no Estado - não são informados dados regionais - caiu de 12,1% no ensino fundamental e de 26,5% no ensino médio, em 1986, para, respectivamente, 1,5% e 5,4% em 2010. No caso da distorção idade/série, o percentual no ensino fundamental caiu de 30,9% em 1998 para 20,3% no ano passado. O ensino médio, por sua vez, teve queda de 47,9% para 20,3% no mesmo período. Esses índices, ainda conforme a secretaria, devem chegar a patamares ainda menores, principalmente no ensino médio, com programas como o “Rede Ensino Médio Técnico”, que irá articular o ensino regular ao profissionalizante, e a expansão dos Centros de Estudos de Línguas (CELs), que neste semestre passarão dos atuais 106 para 248 em todo o Estado com a criação de mais 142 unidades. 
A nota da secretaria também destaca o “aperfeiçoamento” do sistema de progressão continuada, que deve diminuir a evasão e a distorção entre idade e série por meio da reorganização dos ciclos do ensino fundamental, da implementação de avaliações bimestrais e da oferta obrigatória de estudos de recuperação aos alunos com defasagem no aprendizado. 

Fiscalização 

O Conselho Tutelar de Estrela d’Oeste recebeu ofício das escolas locais informando que 56 alunos, dos ensinos fundamental e médio, faltaram em pelo menos metade das aulas no terceiro trimestre deste ano. “Vamos visitá-los e advertir os pais. Em 80% dos casos, resolvemos a questão, ou seja, o aluno retorna para a escola. Do contrário, procuramos o Ministério Público e ingressamos com representação”, diz a conselheira Elizabeth Cerato Ferreira. 
O Conselho Tutelar de Meridiano adota o mesmo procedimento. Segundo a conselheira Paulina Vorussi, a maioria da evasão envolve adolescentes. “Alguns jovens preferem não ir mais. Outros, vão trabalhar.” Há casos de meninas que engravidaram e desistem da aula. “Deixei o 2º ano no meio do ano passado. Tentei retornar em 2011, mas não consegui. Meu filho (1 ano e cinco meses) chorava o tempo todo”, afirma Joice Costa da Silva, 17 anos. Da escola, guardou o último caderno. “Espero que a minha filha volte para a escola”, diz Laidi Francisco da Costa. 
A diretora de Educação de Meridiano, Rosana Gandolfe, afirma que praticamente não existe evasão na cidade, apesar da taxa de 2,1 no primeiro ciclo do fundamental em 2010. “Ocorreu uma questão isolada. Uma usina foi construída. Quando as obras terminaram, os funcionários pegaram as crianças e foram embora.” 

Escola deve ser mais atrativa 

Para combater o abandono escolar, os especialistas defendem mudanças no ensino médio da rede pública. A primeira, na opinião da pedagoga Duda Laguna, é investir em conteúdos profissionalizantes. “Só assim para que o ensino médio tenha sentido ao aluno.” Outra saída, segundo a especialista em políticas educacionais Maria Izabel Azevedo Noronha, é flexibilizar o currículo, dando maior liberdade à escola, e investir em equipes multidisciplinares, com psicólogos e assistentes sociais, que abordem problemas sociais pertinentes aos jovens, como drogas e criminalidade. 

Segundo Maria Izabel, muitos jovens preferem abandonar o ensino médio para, futuramente, ingressar na Educação de Jovens e Adultos (EJA). “Ou se faz a escola atrativa ou esse problema vai se repetir indefinidamente”, diz a especialista. 
“O jovem deve sair do ensino médio com uma boa formação intelectual, para não buscar apenas o certificado via EJA”, diz Maria Izabel.
Fonte: http://toquedeacolherbahia.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário