terça-feira, 1 de novembro de 2011

Maioridade penal volta a debate no Congresso


Clique para Ampliar

Para o senador Clésio Andrade, a maioridade civil e penal aos 16 anos implica também na concessão da cidadania

Brasília (Sucursal). Tema espinhoso dentro da sociedade brasileira, a redução da maioridade penal voltou a ser foco de debates no Congresso Nacional, após a apresentação, na última semana, de Proposta de Emenda Constitucional (PEC), de autoria do senador mineiro, Clésio Andrade (PR), que prevê a redução de 18 para 16 anos a idade para que uma pessoa possa ser responsabilizada por seus crimes como um adulto.

Pesquisa

Segundo Clésio Andrade, "nada menos do que 86% da população brasileira aprova a redução da maioridade de 18 para 16 anos, sendo que 75% dos brasileiros são ´totalmente a favor´ da medida. É o que aponta recente pesquisa CNI-Ibope que constatou, ainda, que, dentre os entrevistados, 83% concordam que a responsabilidade penal somente após os 18 anos tem incentivado o uso de menores em crimes", revelou.

"O jovem ao qual já é facultado o voto, até o poder de escolher o presidente da República ou o prefeito da sua cidade, vai poder assim exercer seus direitos civis na plenitude. Vai poder tirar carteira de motorista, arrumar emprego ou montar empresa, participar de sociedades, casar", afirma Clésio.

A proposta divide a bancada cearense no Congresso. Enquanto alguns deputados, como Raimundo Gomes de Matos (PSDB) e André Figueiredo (PDT) se mostram radicalmente contrários à proposta os deputados Anibal Gomes (PMDB) e Gorete Pereira (PR) são favoráveis à redução.

Os argumentos que embasam a proposta no sentido da redução, são usados da mesma forma por quem é contrário a ela. Um dos primeiros argumentos usados é o fato de o adolescente de 16 anos já poder votar e decidir com seu voto o futuro de sua cidade, Estado e principalmente do país.

Para o senador Clésio Andrade, a maioridade civil e penal aos 16 anos implica não somente na possibilidade de punição para os infratores, mas na concessão de cidadania plena a todos os jovens.
Clique para Ampliar
"Aos 16 anos, o jovem de hoje está preparado para a maioridade e, portanto, para conquistar a vida adulta, com seus direitos e obrigações. Por isso mesmo, o voto deve ser obrigatório e não mais facultativo, pois nessa idade o jovem já tem discernimento para escolher do prefeito de sua cidade ao presidente da República", afirmou,, acrescentando que se o voto facultativo tem o caráter de concessão, o obrigatório implica cidadania plena.

Para o deputado Raimundo Gomes de Matos, estes argumentos são fracos e a medida é inócua. "Sou contra. O que precisa ser feito é a adoção de políticas públicas voltadas para a inclusão dos jovens, até por que os jovens em conflito com a lei não estão sendo reinseridos na sociedade. As casas correcionais não vêm dando respostas adequadas. Defender a redução da maioridade com a desculpa da garantia do voto aos 16 anos é muito simplista", afirmou o parlamentar tucano.

Retrocesso

Para o Promotor de Justiça no Estado de São Paulo, mestre em Direito Público e professor de Direito Processual Civil na Unip, José Heitor dos Santos a volta da discussão da redução da maioridade penal no Brasil é um retrocesso.

"No Brasil, a maioridade penal já foi reduzida: Começa aos 12 anos de idade. A discussão sobre o tema, portanto, é estéril e objetiva, na verdade, isentar os culpados de responsabilidade pelo desrespeito aos direitos e garantias fundamentais da criança e do adolescente, previstos na Constituição Federal".

"Sou totalmente a favor da redução da maior idade. Acho que com a tecnologia, no século que estamos as pessoas são mais sábias. Tem muito mais orientação do que antigamente. A legislação tem que evoluir. A pessoa com 16 anos tem mais conhecimento hoje do que uma pessoa de 21 ou 22 anos, na época em que eu estava com 16 anos", avalia o deputado Anibal Gomes, que já anunciou seu voto favorável à PEC da redução da maioridade.

"Um jovem se transforma em adulto quando adquire discernimento dos seus direitos e deveres e está apto a exigir uns e a se submeter aos outros. Na sociedade altamente urbanizada de hoje, em que o jovem tem acesso a todo tipo de informação, em tempo real, ele passa por um amadurecimento mais rápido", afirma o senador Clésio Andrade, corroborando com ao argumento do aumento do conhecimento por parte dos jovens da atualidade por conta do grande volume de informações.

Adaptação

a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 83) reduzindo de 18 para 16 anos a maioridade penal e civil, de autoria do senador Clésio Andrade (PR-MG), tem como objetivo criar instrumentos para coibir a criminalidade, de um lado, assim como dar aos jovens o pleno exercício dos direitos civis. Segundo o senador, o jovem poderá assim exercer seus direitos civis na plenitude, que implica também em assumir as responsabilidades penais sobre seus atos. Ele argumenta ser preciso adaptar a legislação aos tempos atuais, em que jovens estão praticando crimes por iniciativa própria ou a mando de maiores, com a certeza da impunidade. Aprovada a maioridade penal, será necessário adaptar a legislação criminal infraconstitucional para que os jovens de 16 aos 21 anos pegos em práticas criminosas recebam internamento e tratamento em instituições especiais e exclusivas, sem promiscuidade com condenados com idade superior aos 21 anos

ESTATUTO DA CRIANÇA
Criminosos aproveitam limitações

Brasília (Sucursal). Apesar de terem posições opostas em relação ao tema, os entrevistados concordam que os jovens no Brasil tem sido alvo de exploração por parte dos criminosos, principalmente traficantes, pela diferenciação da punição para cada menor infrator.

Até outubro deste ano, 2.722 casos de atos infracionais cometidos por jovens e adolescentes foram registrados no Ceará, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública do Estado. O número é igual ao total registrado durante todo o ano de 2010 e atualmente, cerca de seis mil jovens apreendidos cumprem algum tipo de medida no sistema educacional no Ceará

No Brasil, os traficantes de drogas, armas e ladrões e demais praticantes de crimes começam cada dia mais cedo aliciando os menores. Crianças que não podem ser presas e por este motivo são as melhores "mulas", "fogueteiros" ou "aviões" para o crime organizado. Este é um dos principais pontos de defesa da redução da maioridade penal para os que querem coibir esta prática com medidas coercitivas.

José Heitor dos Santos explica que o maior de 18 anos de idade que pratica crimes e contravenções penais (infrações penais) pode ser preso, processado, condenado e, se for o caso, cumprir pena em presídios. O menor de 18 anos de idade, de igual modo, também responde pelos crimes ou contravenções penais que pratica.

"Assim, um adolescente com 12 anos de idade, que na verdade ainda é psicologicamente uma criança, que comete crimes, pode ser internado, processado, condenado e, se o caso, cumprir a pena em estabelecimentos educacionais, que são verdadeiros presídios", explica o promotor de São Paulo.

José Heitor avalia que o Estatuto da Criança e do Adolescente, ao adotar a teoria da proteção integral, que vê a criança e o adolescente como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, necessitando, em consequência, de proteção diferenciada, especializada e integral. "Ele não teve por objetivo manter a impunidade de jovens, autores de infrações penais, tanto que criou diversas medidas sócio-educativas que, na realidade, são verdadeiras penas, iguais àquelas aplicadas aos adultos".

O senador Reditario Cassol (PP-RO) defendeu esta semana, em plenário, a redução da maioridade penal e afirma que os argumentos dos defensores dos direitos dos jovens infratores não levam em consideração a realidade vivida não só por jovens, mas por toda a sociedade.

"Não existe diferença entre um tiro dado por um adolescente ou por um adulto" - afirmou o parlamentar, lembrando que "muitas vezes adultos usam menores para cometer crime". O parlamentar observou que, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, os crimes praticados por menores de 18 anos são chamados de atos infracionais. Seus praticantes de adolescentes em conflito com a lei ou menores infratores. As penalidades previstas são medidas sociais educativas.

Segundo o senador, o menor pode ficar, no máximo, três anos internado, se o ato infracional cometido for grave. Depois, fica em regime de liberdade assistida, podendo retornar ao regime fechado em caso de mau comportamento. "Este é o caminho para a volta à criminalidade e para que eles sejam recrutados pelo crime organizado´.

Internado

O promotor José Heitor dos Santos explica que um menor com 12 anos de idade, que mata seu semelhante, se necessário, pode ser internado provisoriamente pelo prazo de 45 dias, internação esta que não passa de uma prisão, sendo semelhante, para o maior, à prisão temporária ou preventiva, com a ressalva de que para o maior o prazo da prisão temporária, em algumas situações, não pode ser superior a 10 dias.

Custodiado provisoriamente, sem sentença definitiva, o menor responde ao processo, com assistência de advogado, tem de indicar testemunhas de defesa, senta no banco dos réus, participa do julgamento, tudo igual ao maior de 18 anos, mas apenas com 12 anos.

Registro

2722 CASOS de atos infracionais cometidos por jovens e adolescentes foram registrados no Ceará, neste ano, de acordo com a Secretaria da Segurança

ANÁLISE
Revisão do ECA pode ser alternativa

Brasília (Sucursal). A revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente parece ser uma terceira via que surge no debate sobre a criminalidade infantil e a redução da maior idade penal.

Para a deputada Gorete Pereira é lógico que um jovem de hoje está a "anos luz melhor informado, mais capacitado" do que um jovem do seu tempo de adolescência. A deputada acredita que a redução da maioridade para 16 anos pode ser uma solução, mas ela não vê com bons olhos.

"Tem que se separar a criança do adolescente. Hoje o mundo é muito avançado, as pessoas são diferentes. O acesso à tecnologia e comunicação está diminuindo o tamanho da infância. No meu tempo as crianças não sabíamos de nada. Hoje não é assim, mas não podemos julgar uma criança de dez ou 12 anos, como se julga um adolescente de 16 ou 18 anos. O problema é que os menores infratores estão se escondendo atrás da impunidade do Estatuto", afirmou a deputada.

Conhecimento

O deputado Danilo Forte (PMDB) defende que há diferenças entre as idades, conhecimentos e mentalidades dos jovens infratores. "Acho que hoje no Brasil há uma banalização da violência, mas temos que ter pesos e medidas diferentes para idades e crimes diferentes. Mais do que na punição, temos que atuar no combate ao tráfico, maximizar os investimentos em educação e melhorar as condições dos jovens carentes. A redução da maioridade penal deve ser estudado com cuidado".

ANE FURTADO
REPÓRTER

Nenhum comentário:

Postar um comentário