Kauany e Keroly nasceram unidas pelo abdome em janeiro do ano passado. Cirurgia para separar crianças foi considerada um sucesso pelos médicos.
A cirurgia foi realizada no dia 29 de novembro do ano passado, e as meninas vão completar dois anos de idade, em 22 de janeiro, entrando para a história da medicina estadual como as siamesas com mais tempo de vida. O primeiro caso ocorreu há 20 anos e as crianças morreram poucos dias após o parto.
O dia 12 de outubro, quando é comemorado o Dia das Crianças, será especial para uma família que mora na zona rural do município de Vale do São Domingos, a 491 quilômetros de Cuiabá. Será o primeiro Dia das Crianças das gêmeas siamesas Kauany e Keroly desde que passaram por uma cirurgia de separação. Elas nasceram unidas pelo abdome e foram separadas 10 meses depois. A cirurgia foi um sucesso e elas se recuperam bem do procedimento médico.
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"Elas são fruto da bênção de Deus", comemora a mãe das gêmeas, Selma Gonçalves Maurício Miranda, 34 anos. Ela não esconde a emoção ao falar da recuperação das filhas que estiveram ligadas por fígado, estômago, intestino grosso e sistemas genital e urinário.
“Hoje tenho duas filhas lindas, que já conseguem engatinhar e são muito espertas”, afirmou Selma. A confirmação vem em seguida diante dos inúmeros brinquedos encontrados espalhados pelo chão da casa.
A família mora num sítio no município de Vale do São Domingos, a 491 km de Cuiabá. A cidade, de acordo com o IBGE, tem cerca de 3.100 habitantes. E, apesar da boa recuperação das meninas, a mãe relatou as dificuldades que ainda enfrenta no tratamento das crianças, como ter que ir a São Paulo constantemente para avaliação médica. Dessa forma, percorrem 2 mil km entre Mato Grosso e a capital paulista.
Elas são fruto da bênção de Deus"
Selma Miranda,
mãe das gêmeas
mãe das gêmeas
As gêmeas nasceram no Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), em Cuiabá, e foram operadas pela equipe do Instituto da Criança, ligado ao Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, em uma complexa cirurgia que durou 12 horas.
Nova cirurgia
Selma Miranda conta que, em agosto, Keroly precisou se submeter a mais uma cirurgia. Desta vez, para a retirada do rim esquerdo. "Eu fiquei dois meses no hospital [São Paulo] para acompanhar todo o procedimento. O médico achou melhor operar após verificar que havia pedras nos rins dela", disse.
Selma Miranda conta que, em agosto, Keroly precisou se submeter a mais uma cirurgia. Desta vez, para a retirada do rim esquerdo. "Eu fiquei dois meses no hospital [São Paulo] para acompanhar todo o procedimento. O médico achou melhor operar após verificar que havia pedras nos rins dela", disse.
A situação não é de risco, segundo a mãe, mas requer cuidados - uma nova consulta já foi agendada para o final de novembro. A irmã Kauany também enfrenta desafios porque o abdome ainda inspira cuidados em relação à cicatrização.
Caso raro e cuidados futuros
O chefe de cirurgia pediátrica da Instituição da Criança, Uenis Tannuri, responsável pela operação, disse em entrevista ao G1 estar impressionado com a rápida recuperação das irmãs siamesas e avaliou se tratar de um caso raríssimo. “Esse tipo de cirurgia, com vários órgãos ligados, tem maior risco, mas sempre tomamos todos os cuidados que o caso requer”, pontuou.
Conforme Tannuri, que também é professor da USP, a prevalência de siameses é de um a cada grupo de 100 mil nascidos vivos. Ele explica ainda que quando as crianças dividem órgãos vitais, como o coração, não é possível separá-las, e a morte é praticamente certa. Nesse caso, Kauany e Keroly têm corações independentes.
O cirurgião ressalta também que tem acompanhado o crescimento e o peso das meninas durante as avaliações médicas, que considera importante serem feitas. Outro ponto que ele aborda é o fato das irmãs terem nascido com três pernas e na cirurgia de separação, a terceira, malformada, foi amputada. Cada uma ficou com um membro. Dessa forma, o médico avalia que em três ou quatro anos, Kauany e Keroly deverão usar próteses (pernas mecânicas).
Geração de gêmeos
A descoberta de que esperava siamesas ocorreu no sexto mês de gestação, momento em que, segundo Selma, o médico disse que via pelo ultrassom um corpo, três pernas e duas cabeças.
A descoberta de que esperava siamesas ocorreu no sexto mês de gestação, momento em que, segundo Selma, o médico disse que via pelo ultrassom um corpo, três pernas e duas cabeças.
“Naquele momento cheguei a achar que ele estava brincando ou até que fosse defeito do ultrassom. Mas não temi porque não é a primeira vez que passo susto”, lembrou. Selma também é mãe de um casal de gêmeos de seis anos de idade, Karen Maria e Kaique José, além do primeiro filho, de 12 anos, Klinton Henrique.
“Não poderia ser mais agraciada. Os gêmeos são herança da minha família tanto do lado do meu pai como da minha mãe, que registram muitos nascimentos. E siamesas também, mas, nos outros casos, nenhuma sobreviveu”, recordou.
Família unida e o retrato do amor
“A vinda delas foi um dos maiores prazeres que eu já tive”, afirmou o pai, Jorge Miranda, de 44 anos, que é produtor rural. Ele conta que sentiu medo e chegou a pensar que fosse perdê-las durante a cirurgia de separação. “Eu pensei em muitas coisas, porque não é uma situação fácil. Nossa vida não é fácil. Mas posso dizer que amo a casa cheia”, declarou, com orgulho, ao olhar para os filhos.
“A vinda delas foi um dos maiores prazeres que eu já tive”, afirmou o pai, Jorge Miranda, de 44 anos, que é produtor rural. Ele conta que sentiu medo e chegou a pensar que fosse perdê-las durante a cirurgia de separação. “Eu pensei em muitas coisas, porque não é uma situação fácil. Nossa vida não é fácil. Mas posso dizer que amo a casa cheia”, declarou, com orgulho, ao olhar para os filhos.
Fonte: G1
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