segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Paquistão: menina de 11 anos pode ser condenada à morte por blasfêmia

Jovem, que teria Síndrome de Down, disse ter queimado páginas do Alcorão por acidente

Menino muçulmano brinca com arma de brinquedo em frente à casa da jovem cristã acusada de blasfêmia
Foto: AAMIR QURESHI / AFP
Menino brinca com arma de brinquedo enfrente a casa da jovem

ISLAMABAD - Uma menina de 11 anos, que teria Síndrome de Down, pode ser condenada à pena de morte no Paquistão sob a acusação de blasfêmia, por queimar cerca de 10 páginas do Alcorão. Segundo Qasim Niazi, policial responsável pela delegacia local, a jovem, que vive em um bairro pobre cristão, é analfabeta e disse que não sabia que destruíra páginas do livro sagrado. De acordo com a lei paquistanesa, crimes de blasfêmia são punidos com execução. No entanto, em comunicado divulgado pela Presidência do Paquistão no domingo, o governo ressaltou que a menina, identificada como Ramsha, teria utilizado o material para cozinhar sem saber o que estava escrito nele, fato que pode salvá-la. Ela foi denunciada por um morador local e policiais encontraram em sua casa - no bairro de Mehrabadi - uma sacola plástica com diversos papéis, entre eles textos sagrados para os muçulmanos.
Segundo Niazi, Ramsha foi levada para a delegacia e tinha muita dificuldade para falar. A ONG Cristãos no Paquistão divulgou que a jovem teria Síndrome de Down, mas a informação não foi confirmada pelo governo. Após a divulgação do incidente, cerca de 150 pessoas realizaram um protesto no local, ameaçando “queimar a menina e dar a ela uma lição”, mas a situação foi controlada pela polícia, disse Niazi.
Temendo serem atacados, cerca de 600 pessoas de famílias cristãs da comunidade deixaram o local. Em um comunicado, o presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, pediu uma investigação urgente do Ministério do Interior e disse que as minorias da sociedade paquistanesa devem ser protegidas de “qualquer uso errôneo da lei da blasfêmia”.
“A blasfêmia não deve ser tolerada, mas ninguém deve utilizar de forma errada a lei da blasfêmia para satisfazer objetivos pessoais”, disse Farhatullah Babar, porta-voz do presidente.
Policiais, que não quiseram ser identificados, disseram ao “Daily Mail” que a acusação contra a jovem pode ser retirada assim que as apurações sobre o caso forem concluídas e a tensão popular diminuir. Ativistas de direitos humanos denunciam que a lei da blasfêmia tem sido diversas vezes utilizada para perseguir minorias religiosas no país.
O Paquistão é a casa de cerca de 2 milhões de cristãos, que representam mais de 1% da população, segundo dados do governo. Em alguns casos, segundo a legislação paquistanesa, um insulto ao Islã, ao Alcorão ou ao profeta Maomé pode ser punido com a pena de morte.
No ano passado, o ministro de Relações das Minorias no Paquistão, Shahbaz Bhatti, foi assassinado depois de ter pedido por uma reformulação da lei da blasfêmia. Dois meses antes, o governador da província de Punjab, Salman Taseer, foi morto dias após de ter feito declarações sobre a polêmica legislação.

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