Dos 130 leitos do Hospital de Saúde Mental, 47 estão ocupados por dependentes de crack, considerada a maldição do século, que não escolhe classe social, idade e sexo; experimentou uma única vez, já se torna escravo da pedra
Cresce a cada dia o número de pessoas que procuram o Hospital de Saúde Mental de Ourinhos em busca de tratamento para o crack. Considerado um problema de Saúde Pública, esses pacientes possuem poucas opções de tratamento em hospitais estaduais e federais.
O crack é a única droga que vicia após o primeiro, trago, pois o individuo inala a fumaça que atingi diretamente seu pulmão dentro de 10 minutos. Seu nome crack, está relacionado a barulho de estalos durante o tempo que está sendo queimada como se fossem cristais.
Para falar sobre o assunto, entrevistamos o médico especializado em Psiquiatria e Geriatria, Dr. Davi Serafim Junior, que há aproximadamente dois anos presta serviço no Saúde Mental.
Ele explica que a história do crack está diretamente relacionada com a da cocaína usada de forma injetável na década de 60, apelidada na época de “droga dos ricos” por causa do seu alto custo. Por isso o surgimento e epidemia do crack, composto com o resto da cocaína e outras substâncias que possibilita a sua venda por R$ 5 ou 10 reais.
“O crack também é consumido com outras sustâncias, conhecido como mescla, no qual o usuário mistura maconha com o crack (craconha) e outras combinações químicas que antecipam a sua autodestruição”.
“O que percebo é que alguns traficantes utilizam da mistura da maconha com o crack, para que o usuário se torne um escravo da droga rapidamente, se desfazendo de todos os bens e até se prostituem para sustentar seu vício. O mais assustador de tudo isso é que essa reação é registrada em pouco tempo de uso, o que diferencia o crack das outras drogas”, esclareceu Dr. Davi.
Em virtude disso, os usuários de crack acabam se envolvendo no mundo do crime, porque depois que se desfaz de todos os bens começam a furtar, roubar e até traficar para sustentar seu próprio vício. Alguns chegam a usar de 30 a 50 pedras em um dia, emagrecendo e deixando-o vulneráveis a doenças como pneumonia, tuberculose e outras, devido à baixa resistência, pois se esquece de viver, não come, dorme, perde sentimentos, enfim, vivem em função do crack”, relatou o psiquiatra.
O Hospital de Saúde Mental tem 130 leitos, sendo que, 47, estão ocupados por dependentes de crack, de idade entre 18 e 62 anos, o que se comprova sua invasão sem distinção de classe social e idade. O dependente de crack é considerado um doente e os familiares devem entender que os viciados estão passando por uma vida diferente, precisando de muita compreensão e amor.
“O transtorno mental em si é muito longe perto do crack, o que se via antes era maior a procura pelo alcoolismo, e hoje é pelo crack”, concluiu.
O que se observa é que muitas crianças estão entrando no mundo da droga, perdendo suas funções neuronais e cardíacas e todo seu desenvolvimento é interrompido pela droga.
Já existia um grande número de envolvidos com maconha, cocaína e álcool, mas nada é tão devastador como o crack.
Acompanhe a entrevista e entenda o que é o crack, seus efeitos e consequências.
JD- O que é o crack? Qual sua forma de uso?
Psiquiatra – De princípio é uma mistura do lixo da cocaína, juntamente com bicarbonato de sódio e sal amoníaco, em seguida recebe porções de éter, solução de bateria, acetona e até cacos moídos de vidro. È fumado, com um cachimbo feito por cano de PVC, metal e outros artefatos, como latinhas de refrigerantes, ou seja, qualquer objeto que possibilite fumar a substância.
JD – Quais os efeitos que o crack proporciona?
Psiquiatra – Posso afirmar que efeitos benéficos nenhum, o crack proporciona uma sensação de euforia, bem estar e excitação constante, que gera um falso prazer durante cerca de dez minutos, que é o tempo que a droga age no organismo. Passado esses momentos, vem a depressão, um das maiores causas de homicídios registrados.
JD – O que o crack provoca no organismo?
Psiquiatra – Causa lesão cerebral, no qual o usuário perde os neurônios provocando a perda de memória, isquemia cerebral, aumento da pressão arterial provocando o infarto, além da intoxicação pelo metal que se espalha pela corrente sanguínea e provoca danos ao cérebro, pulmões, rins e ossos. O uso crônico da droga pode levar à degeneração irreversível dos músculos esqueléticos, portanto o crack destrói em todos os sentidos.
Afetados os neurônios, eles morrem e não voltam mais, por isso é uma perca irreversível.
JQ – Quanto tempo o crack leva para atingir o cérebro e o pulmão?
Psiquiatra – A partir do momento que se inala a fumaça o caminho percorrido até cérebro é de apenas dez segundos, onde já se tem perda de neurônios, logo que acaba a substância o indivíduo começa a ficar agitado, agressivo pela procura de mais, o que consideramos de abstinência, que depois de tratado entra em estado de fissura e desejo.
Já o pulmão é afetado três a dez minutos após o uso, o que também causa problemas respiratórios agudos, incluindo tosse, falta de ar e dores fortes no peito.
JD – Uma pessoa que usa o crack pode ficar psicótico (doente mental)?
Psiquiatra – De princípio o indivíduo apresenta sintomas da Paranóia, caracterizada pelo desenvolvimento de um delírio crônico (de grandeza, de perseguição), em seguida desenvolve a Psicose e a doença mental (popularmente conhecida como loucura) e que se caracteriza por ausência de percepção da realidade, podendo levar o usuário a apresentar uma doença mental irreversível.
JD- O que leva uma pessoa a experimentar o crack?
Psiquiatra - Depois de estudos e convivências com meus pacientes, posso afirmar que uma criança que não cresceu em ambiente familiar, que não teve carinho, amor, religião, contato social e educação, tem maior probabilidade de desenvolver a dependência pelo crack. Alguns estudos apontam que a genética tem certa hereditariedade, mas considerado muito baixo comparado com a falta de amor num ambiente familiar.
JD – Existe tratamento? Quais são as modalidades? Tem cura?
Psiquiatra – Sim, desde que o dependente aceite o tratamento, a partir daí são oferecidos várias modalidades em hospitais psiquiátricos, clínicas filantrópicas, clínicas particulares, na qual a pareceria com órgãos religiosos vem tendo um excelente resultado. Aqui no Saúde Mental é realizado o processo de desintoxicação, com o paciente permanecendo por 21 dias longe das drogas. Após esse período, deve ser encaminhado para uma internação em clínicas por nove meses, três a mais do que a dependência por outras drogas. A dependência do crack não tem cura, o paciente para o resto de sua vida vai conviver com as seqüelas deixadas pela droga.
Renata Tiburcio/Redação JNN
Conselho Tutelar de Itapetinga
Em defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes
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