quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Ensino médio demanda profunda reformulação

Colaborou Danilo Mekari, do Portal Aprendiz
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“Nós não temos uma fórmula pronta, mas temos indicadores de que o ensino médio precisa ser repensado.” A constatação da pesquisadora Carla Linhares, daUniversidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revela o desafio da etapa escolar a ser enfrentado pela sociedade e governos brasileiros. Atualmente, metade das crianças e adolescentes que estão fora da escola são jovens que deveriam estar no ensino médio. São 1,5 milhão de pessoas de 15 a 17 anos que não estudam, segundo dados do Observatório do PNE. Além disso, a etapa enfrenta altos índices de evasão. De acordo com o Censo Escolar de 2013, 9,2% dos estudantes da rede pública evadem ao longo dos três anos, sendo que o índice alcança 11% no 1º ano. O debate sobre o ensino médio ganhou ainda mais visibilidade com o discurso de posse da presidenta Dilma Rousseff, que apresentou a reformulação curricular da etapa como prioridade de seu mandato, tornando-os um dos eixos do Brasil, Pátria Educadora. “Sabemos que essa é uma área frágil no nosso sistema educacional”, admitiu a governante.
A opinião é partilhada pela coordenadora geral da Ação Educativa, Vera Masagão. “Este é o nível em que mais estamos devendo, seja em termos de qualidade, de proposta pedagógica e até de compreensão do que fazer com esse aluno.”
Se o diagnóstico é claro, os caminhos para superá-lo ainda estão em discussão. Entender mais o adolescente é apontando como ponto de partida para o êxito de qualquer reformulação do ensino médio. “Há que refletir e pesquisar muito para pensarmos que jovem é esse e a partir daí vem a questão do currículo”, explica Carla, da UFMG.
Já Vera destaca que o ensino distante da realidade tem como consequência o desestímulo aos adolescentes. “É um grupo que exige conexão da escola com o mundo adulto e o ensino médio não tem sentido se não cumpre esse papel”, argumenta, discutindo a importância da etapa pautar com o estudante as questões contemporâneas.

Caminhos abertos
A conexão entre a realidade dos adolescentes e o mundo adulto é visto como uma maneira de preparação para os desafios que os jovens irão enfrentar. Isso significa trazer para dentro da escola temas de interesse dos estudantes para que possam explorar e vivenciar seus desejos e anseios e prepará-los para os possíveis caminhos que desejem seguir.
A coordenadora da Ação Educativa aponta que a a escola deve “introduzir uma cultura científica para que eles possam seguir estudando”, seja no ensino técnico, superior ou profissionalizante. No entanto, isso não basta. “A maioria dos cursos encaminha para as faculdades, mas muitos jovens nem pensam em ir para a universidade”, problematiza Carla, “o trabalho é uma das dimensões fundantes do adolescente”. Diante das múltiplas demandas e possibilidades que os jovens trazem, é importante pensar uma formação integral dos sujeitos. “O currículo deve ser pensado como uma questão mais ampla de desenvolvimento do sujeito jovem, não apenas elencar disciplinas”, argumenta Carla. “Temos que pensar que ele é o objetivo maior do ensino médio e refletir quais são as necessidades dele no mundo contemporâneo”, complementa.

Reformulação em pauta
Mudanças e melhorias do ensino médio já previstas pela legislação. O Plano Nacional de Educação (PNE) prevê que, em 2024, 85% dos jovens de 15 a 17 anos estejam no ensino médio – sendo que atualmente esse número é de 54%. Como estratégia, o PNE prevê que haja a diversificação de conteúdos e espaços. Entre as possibilidades está a participação dos estudantes em cursos das áreas de tecnologia e ciência; o incentivo a práticas interdisciplinares que conectem teoria e prática; e o fomento de atividades culturais e esportivas.
Na Câmara dos Deputados desde o ano passado está sendo debatida uma proposta de reformulação do ensino médio. O Projeto de Lei busca aproximar os conteúdos do ensino médio aos interesses e realidade dos alunos, e prevê o aumento de vagas em tempo integral.

*Vera Masagão e Carla Linhares haviam originalmente concedido entrevista para a reportagem Novo lema do governo, “Brasil, Pátria Educadora” demanda mudanças na atual política

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