O show da vida vai tratar de um assunto polêmico: os pais devem vigiar o que os jovens fazem na internet? Esta semana, a polícia esclareceu dois casos de suspeita de pedofilia. E isso só foi possível graças ao empenho dos pais, que vasculharam os computadores dos filhos e descobriram os crimes. "Eu beijei ele naquela noite, eu deixei ele na cama dormindo e ele levantou e acordou para retornar à internet pra falar com um rapaz", diz uma mãe. "Ela pegava o notebook, sentava no sofá, e ficava de quatro a cinco horas. E Isso tudo foi me chamando muito a atenção", conta um pai. Esses pais - que não querem se identificar - ficaram desconfiados. E não foi à toa. Os filhos estavam em contato com pedófilos, que foram presos em flagrante esta semana. Um casal, em São Paulo, e um homem em Niterói, no Rio de Janeiro. "É ponto para nós que somos trabalhadores, que é honesto, que queremos o bem dos nossos filhos, ver esse tipo de pessoa preso, na cadeia,”, diz o pai.
Os criminosos pensavam que estavam seguros no mundo virtual.
"No meio da madrugada ele foi até o meu quarto e pegou o celular do pai. E ficaram conversando durante cerca de uma hora no celular. Meu filho com esse rapaz", disse a mãe.
No dia seguinte, o despertador do celular tocou no quarto do menino de 9 anos. A mãe estranhou, perguntou ao filho e à filha - de 12 anos - com quem eles conversaram de madrugada. Descobriu que foi com um homem, que tinham conhecido na internet. Ela decidiu então rastrear as páginas das crianças em uma rede social, e encontrou mensagens do desconhecido. "Ele solicita que eles tirem a roupa e se mostrem pra ele", conta a mãe.
O homem gravou essas imagens e começou a chantagear. Ele fez várias ameaças: "Vou pegar, vou fazer, eu sei onde você mora”. Ele fez várias ameaças: “se prepara pra perder um dente; se eu souber de algo você vai se arrepender de ter nascido”.
A mãe agiu. Ela começou a se passar pelo filho na internet. Manteve contato com o pedófilo. Todas as informações que conseguia, passava para a polícia.
A mãe também gravou uma ligação do pedófilo com o filho. "Oh meu Deus. Ai, você é muito fofo. Ai, queria tá aí agora”, disse o criminoso em uma ligação. Segundo a polícia, a voz é do homem conhecido como Betinho. Ele tem 21 anos, mas nas redes sociais usava uma foto de quando era adolescente, para se passar por um menor de idade. A polícia disse que encontrou no computador dele fotos pornográficas de menores de idade.
Luciana é professora universitária de anatomia e o namorado dela, Rodrigo, técnico em informática. Com eles foram apreendidos chicotes, máscaras, algemas, seringas, coleiras e roupas de couro, objetos usados em rituais de sexo com violência. Segundo as investigações, uma menina de 14 anos esteve presente em uma dessas sessões. A jovem foi fotografada e as imagens divulgadas na internet.
O pai já achava que a filha passava muito tempo no computador. Quando ela chegou em casa com um presente, ele suspeitou. "Imagina uma menina de 14 anos ganhar um espartilho.
Os pais tomaram uma atitude extrema: pediram demissão dos empregos - ele frentista, ela auxiliar de cozinha. E se dedicaram a vigiar o computador da menina, por meio de um programa-espião. A adolescente usava o computador no quarto onde dorme. Entrava em salas de bate-papo. Atrás de uma parede, o pai acompanhava tudo, do quarto dele, em um outro computador.
Foram dez dias seguindo todas as conversas dela com o casal. "Tudo que ela mexia no computador dela, a cada uma hora era mandado para o meu e-mail”, contou o pai.
Em uma das mensagens, Rodrigo dizia: "Te achei linda mesmo. Simpática, sincera, meiga e muito legal". "Eu desmontei na hora, fiquei muito aflito. Mas eu tinha que me manter frio, porque aí eu percebi que eu tava lidando com criminosos”.
Também neste caso, o pai repassava as informações à polícia, diariamente. "Foi fundamental para o nosso trabalho essa parceria do pai com a polícia. Dificilmente a polícia conseguiria, nesse tempo, sem as informações do pai, chegar aos autores", afirma o delegado Genésio Léo Júnior.
Os suspeitos de pedofilia podem pegar penas que variam de um a oito anos de prisão. As provas reunidas pelos pais das crianças de Niterói também foram fundamentais.
“Imprimiram as conversas que realmente demonstravam que os filhos estavam sendo atraídos, e comprovou o crime”, diz o delegado Marcello Braga Maia.
O advogado do suspeito de Niterói diz que não vai falar porque o processo corre sob segredo de Justiça. A defesa do casal de São Paulo não foi localizada.
Invasão de privacidade ou a garantia de segurança para os filhos? Nesses dois casos ficou bem claro que a interferência dos pais levou à prisão de criminosos. O Fantástico reuniu filhos e mães para saber o que pensam sobre esse assunto. Vocês acham que esses pais agiram da maneira certa? “Sim, porque em qualquer família é sempre bom ter um pai que policia você na internet. Os pais nunca sabem o que os filhos estão fazendo, com quem tão conversando”, disse Vinicius Tavares de Souza, 13 anos.
“Teve um episódio em que eles marcaram uma briga em uma rede social. Eu cheguei a fazer uma invasão de privacidade, eu abri a página, vi todos os amigos, fomos excluindo pessoas, fui vendo conversas”, conta a professor Virginia de Souza.
“Achei isso péssimo, porque eu não entro na rede social dela. Ela também não deveria entrar na minha”, reclama Carolina Souza Freira, 14 anos, fila de Virginia.
“Eu sou partidária de primeiro tentar conversar com ele. Se não funcionar, você pode sim fazer um monitoramento mais efetivo”, indica Luciana Ruffo, psicóloga da PUC-SP.
Foi o que fez a nutricionista Daniela Rezende, mãe de Gabriel. “Ele já conversou com uma pessoa que era muito mais velha, marcou um encontro em uma balada. Chegamos a conversar com ele. Ele ficou bravo, mas hoje ele sabe que a gente monitora ele e também os irmãos. Ele não acha mais ruim como achava”, diz Daniela.
“É verdade”, diz Gabriel.
"A internet é uma ferramenta muito boa para muitas coisas, mas quando não se sabe usar, a gente bota o inimigo dentro da nossa casa", disse a mãe.
E só quem já passou por isso, sabe o que é ter o inimigo dentro de casa.
“É como que se a gente tivesse se apegado ainda mais a ela do que a gente já é como pai e mãe. É aquele amor de patinho. Põe a asa em cima e dali ninguém tira, porque é seu", afirma o pai.
Fonte: http://fantastico.globo.com
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