quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Há mães que realmente não querem seus filhos


O abandono de bebês tem sido notícia recorrente na mídia nacional nos últimos meses. Geralmente são recém-nascidos, abandonados no lixo, em via pública, em pátios e terrrenos baldios, envolvidos em algum trapo, colocados dentro de sacos plásticos e até mesmo um jogado na Lagoa da Pampulha em Minas Gerais e encontrado boiando e salvo por alguém que passava. Alguns são abandonados mortos. Outros são fetos ainda. A história de cada mãe que abandona seu bebê, que o rejeita e o expõe ao risco de morrer, ainda está para ser descrita. Não há dúvida, contudo que esses abandonos têm uma história, talvez diferentes, mas com pontos em comum: são mães que não querem seus filhos. Mas porque estas mães impõem aos seus bebês o risco de morrer? São eles apenas testemunhas inocentes silenciosas de um ato que não podemos aceitar - a rejeição. Mas precisam morrer? Seguramente existem muitas pessoas que amariam essas crianças. Que poderiam dar a elas carinho, afeto, aconchego e proporcionando assim a essas crianças um bom patrimônio afetivo para toda a vida. Mas se existem pessoas que não querem seus filhos, que preferem abandoná-los em situação de alto risco, em qualquer lugar, e se existem pessoas que querem essas crianças por que isso não acontece?
Há pouco tempo, estive, eu pediatra, em um programa da TVE, entre um desembargador e dois advogados de família, debatendo com os mediadores o abandono de bebês. Levantei a seguinte questão: por que essas mães não abandonam seus filhos na porta dos Juizados de Infância e da Juventude? Têm medo? De quê? De serem acusadas? De serem presas? Argumentei que caberia de imediato ao Juizado, acolher essas crianças e encaminhá-las para o atendimento à longa fila de pais que pretendem adotar. Mas as mães que rejeitam seus filhos preferem abandoná-los na via pública. Tem que haver uma razão. Pois no referido programa fui acusado de incentivar o abandono de bebês e querer ressuscitar a muito antiga e abandonada "roda dos expostos". Agora chega-nos a notícia de que a Itália, o ministro para assuntos da família quer que cada hospital do país tenha uma versão moderna da "roda dos enjeitados" A sala preparada para abandonos possui sensores eletrônicos, que detectam a presença da criança e ativam um alarme em 40 segundos. Alguns hospitais já têm cartazes com os dizeres "não abandone sua criança, deixe-a conosco". Imaginemos quantas vidas serão salvas e quantas crianças escaparão de crescer sem serem desejadas. Talvez seja a hora de os nosso Juizados da Infância pensarem no que podem fazer para que as mães decidam, sem medo e no anonimato, não abandonarem seus filhos nas ruas ou até matá-los, mas os deixarem com quem pode deles cuidar.

Lauro Monteiro
Editor

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