“Girafa”, “vovó sem dente”, “substantivo abstrato”, “cafona”, “desdentada”, “feia”, “piolho”... Estes foram os apelidos nada delicados que F.G.C.S, de 21 anos, recebeu durante toda a infância e adolescência, nos colégios pelos quais passou. Não era uma brincadeira inocente.
— Os ataques começaram quando eu tinha 4 anos e se prolongaram. Hoje, sofro de síndrome do pânico e vi minha vida destruída por pessoas sem coração — desabafa F.
Casos como os dela proliferam no mundo. Se o comportamento de alguém ou de um grupo agride, verbal ou fisicamente, de forma insistente, isso se chama bullying. O termo tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato.
A prática é a que mais cresce no mundo e preocupa autoridades, pais e professores.
— As vítimas de bullying, normalmente, são aquelas fora dos padrões de beleza impostos por um grupo ou sociedade — explica a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora do livro “Bullying e Cyberbullying — O que fazemos com o que fazem conosco?”.
Maria Tereza deixa claro em sua pesquisa que existem três grupos: os agressores, as vítimas e os espectadores do bullying. E ressalta que uma vítima pode ser também um praticante:
— É como se ele precisasse descontar em outro. Comumente, a vítima também oprime alguém, reproduz o comportamento do agressor. Não é útil ver a vítima como totalmente frágil e o autor totalmente “fortão”.
Sinais de alerta
Mas como saber se seu filho ou aluno está inserido num dos grupos de bullying e não pensar que o assunto é frescura ou uma brincadeira de criança?
— Medo de ir à escola, material escolar destruído ou rasgado, dinheiro ou merenda roubada constantemente, enjoos e dores de cabeça nas horas que antecedem a ida para o colégio ou a queixa destes sintomas antes da hora da saída ou do recreio, queda no rendimento escolar e vontade de mudar de escola. Se seu filho tem algum destes sintomas, fique atento — diz o educador Gustavo Teixeira, em seu livro “Manual antibullying”.
A prática pode estar em casa
Para o ator e autor Mar’Junior, de 50 anos, da Cia Atores de Mar, o bullying começou na própria casa. O pai, um homem autoritário e intolerante, frequentemente chamava o filho de burro. A insistência era tanta que Mar’Junior repetiu os primeiros anos primário, ginasial e científico.
— Tinha pavor de fazer prova, aquilo era um sofrimento para mim. Mesmo adulto, dirigi anos sem carteira de motorista porque tinha ataques de ansiedade com a prova. Testes em emissoras de TV também nem pensar — descreve ele, que hoje tenta ajudar crianças e jovens que passam por situação semelhante levando às escolas o espetáculo "Bullying": — Fazemos uma abordagem do assunto através de esquetes. A peça dura 30 minutos e ao final sempre promovemos um debate com os estudantes. O fato é que as pessoas não estão preparadas para lidar com essa onda de violência, que muitas vezes pode parecer apenas uma brincadeira não muito inocente.
O dia do revide
De tanto sofrer com as agressões em casa, Mar’Junior também foi uma vítima na rua. Cansou de apanhar dos "colegas", até o dia do revide. Quando bateu em alguém, tornou-se um agressor. Formou uma espécie de bando e aterrorizou outros meninos que considerava "fracotes".
— Quem sofre o bullying, em algum momento, tenta descontar essa raiva contida, o que está errado. Só com diálogo é possível mudar este cenário. Os pais têm que ser mais parceiros de seus filhos, ouvi-los, compreendê-los e estabelecer limites — aconselha ele, pai de duas meninas na faixa de 20 anos.
Tanto Maria Tereza Maldonado quanto Mar’Junior são enfáticos ao dizer que mesmo tendo sofrido bullying, Wellington Menezes de Oliveira não causou o massacre de Realengo por conta disso, mas sim por problemas psicológicos. Mas alertam que as marcas dessa prática são para a vida toda quando não percebidas ou tratadas.
— O bullying está em todas. Nas escolas públicas e particulares. É preciso que haja empenho para desenvoler um programa antibullying. E a melhor forma é reestabelecer o respeito que tem que haver entre seres humanos — ensina Mar’Junior
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