Pais e professores assimilaram nos últimos anos uma palavra que antes não fazia parte do seu vocabulário
Pais e professores assimilaram nos últimos anos uma palavra que antes não fazia parte do seu vocabulário -- o bullying é uma prática perversa, causadora de transtornos a crianças e adolescentes. Está tão no centro das preocupações que até parece ser epidemia, como a dengue. Mas não é tão recente assim. Por volta de 2000 foi associado na Europa a tentativas de suicídio entre jovens. Educadores afirmam que sempre existiu. Agora é que o assunto está sendo mais discutido. E essa é uma boa notícia.
Cerca de 70% dos alunos já viram algum colega ser maltratado pelo menos uma vez na escola, segundo pesquisa nacional feita em 2010 pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats). O índice chega a 81% na região Sudeste. Dos entrevistados, 28% afirmam já ter sofrido maus-tratos na escola e cerca de 10% são considerados vítimas.
Entre os motivos para a violência escolar apontados pelos alunos estão influência de comportamentos familiares agressivos, busca por popularidade, status e aceitação em um grupo. Uma parte acusa a escola de omissão. A pesquisa levou em consideração entrevistas de 5.168 estudantes do ensino fundamental de todas as regiões do Brasil, de escolas públicas e particulares. O alto índice de violência levou o Ministério da Educação (MEC) a se engajar mais no problema. Esta semana, promotores públicos de São Paulo pediram que o bullying seja considerado crime.
O noticiário da Rede APJ - Associação Paulista de Jornais, à qual pertence este jornal, dá uma amostra da extensão do problema no Estado de São Paulo.
Agressões
Em Araraquara, uma mãe denunciou à polícia ato de bullying contra sua filha de 13 anos, que sofreu agressões verbais por parte de colegas. Depois de um ano de violência moral, ela se feriu ao bater os joelhos e a cabeça enquanto era vítima de uma "brincadeira". Ano passado, o jornal "Tribuna Impressa" produziu um DVD intitulado "Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz", entregue às 115 escolas públicas e particulares da cidade. Confirmando a tendência registrada na pesquisa nacional, a pesquisadora Juliana Munaretti de Oliveira ouviu 772 alunos do 1º ano do ensino médio e concluiu: 51% dos alunos da rede particular, 28% da rede pública e 13% de escolas autárquicas públicas que funcionam com recursos privados disseram perceber a existência de colegas agressores ou intimidadores.
Em prantos
Em Santa Bárbara d'Oeste, um caso de bullying contra adolescente de 14 anos chegou à Promotoria da Infância e Juventude depois que um vídeo foi postado em um site da internet. Nas imagens, o adolescente aparecia chorando ao ser perseguido por um grupo de colegas da escola estadual onde estuda. O garoto foi transferido para outra instituição escolar por determinação do Conselho Tutelar, segundo o qual cerca de dez adolescentes, com idade entre 11 e 17 anos, foram identificados e chamados junto com os pais para prestar esclarecimentos. Não é o primeiro caso na região. Tanto assim que o jornal "O Liberal", de Americana, publicou em 2006 matéria dirigida a jovens: "Dependendo do nível de pressão, a zoação pode interferir nas notas, minar a auto-estima e evoluir para quadros depressivos e de ansiedade".
Tragédia
Em Araçatuba, a Secretaria Municipal de Educação identificou mais de 200 casos de bullying nas escolas da cidade, um ano após o lançamento de programa de prevenção com o uso de textos, cartilhas e projetos pedagógicos. A "Folha da Região" trouxe no domingo o depoimento de uma mãe de aluna que por muitos anos foi vítima de piadas e xingamentos por causa da obesidade. O final dramático é que a menina foi transferida de escola, o caminho ficou mais perigoso, e morreu atropelada.
Prevenção
Em Franca, representante do Conselho Tutelar disse ao "Comércio da Franca" que o número de casos registrados pelo órgão "não reflete a realidade porque muitas das vítimas não prestam queixa". Oficialmente, são 18 os casos de alunos vítimas de bullying desde julho do ano passado que terminaram com agressão física e obrigaram os pais até a trocar os filhos de escola. De janeiro de 2010 a abril deste ano, a Polícia Militar registrou 35 ocorrências de lesão corporal, agressão e ameaças em estabelecimentos de ensino. Lei municipal foi aprovada em setembro de 2010 e as escolas passaram a desenvolver o programa Cultura da Paz, que ensina a respeitar e ter tolerância às diferenças.
Educação
Segundo o "Jornal de Jundiaí", alunos participaram de palestra em que foram esclarecidas dúvidas sobre a prática de agressões, desde apelidos e insultos até atos mais violentos, com a participação de profissionais e abertura às falas dos adolescentes. Divididos em duas turmas, com cerca de 240 alunos cada, os participantes foram iniciados ao debate sobre bullying sob aspectos sociais, psicológicos, físicos e legais. A importância da educação como prevenção de tais atitudes prevaleceu entre as opiniões. Paradoxalmente, a esperança para a eliminação do bullying está no próprio ambiente da escola, assim como o antídoto do veneno
Fonte: Diário do Grande ABC
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